Um dia no garimpo...

O seu pai era garimpeiro, fugido na loucura da juventude e do oiro para o quadrado S3 única referência da selva Amazónica Venezuelana.

Quando aí chegou encontrou uma vila lamacenta feita de paus e troncos de Sucupira, de revólveres e bêbados loucos, com regras bem definidas e mulheres bem despidas.
O choque foi tremendo, vinha de um país europeu, desenvolvido e nada o preparara para este estado de sítio permanente onde as decisões eram rapidamente mediadas por uma Colt de seis tiros num processo democrático de dedos rápidos contando-se depois as balas por votos.
Os grandes dias eram os do "Avião" como lá se dizia, uma pequena avioneta Chuke de fabrico soviético que mensalmente aterrava nas famosas pistas Amazónicas de fetos; era nesse dia que o ciclo se repetia, as pepitas trocadas por alimentos, os alimentos trocados por pepitas e raparigas até ao mês que vem, tambêm o dizia o piloto com o ar cínico de agiota;
- O ciclo de vida na volta de um avião dizia, incrédulo, não percebendo o porquê destas existências mundanas e mercuriamente disformes.
Não eram estas pessoas que o impressionavam mais ali, os mergulhos...os mergulhos ...esses sim eram perigoso, era para isso que ele o tinha chamado no engodo da riqueza, era esse e apenas esse o seu papel nessa sociedade logo descobriu, passar 10 horas por dia a 4 metros de profundidade a aspirar as areias das margem lodaçentas, no risco de soterramento ou explosão das bombas no garimpo a jusante; esse trabalho seu pai lhe dedicou, como se de um ritual de passagem se tratasse, disse-lhe apontando para o fato roto e a mascara descolada:
- Meu filho, hoje passarás a ser um homem, veste o fato e vamos que perdemos o sol.
Aguentou apenas lá um ano, perderam-se o numero de vezes que fugiu de balas ou as disparou, as garrafas de diesel da barcaça roubadas, as que roubou, mas esquecer no entanto nunca esqueceu, o seu pai que por lá deixou.