Brave New World

Agarro-me ao cabo enquanto à minha volta tudo se movimenta na maior das cumplicidades, o chão revolve-se a cada sopro de pés e os olhos esforçam-se tentando compreender o que se passa na neblina suspensa de particulas...
O meu cérebro diz:
- Sai daqui, depressa!
Estou de joelhos, a respiração é brutal e o som angustiante, como se cada sopro fosse o ultimo sugado do fundo dos meus pulmões , cheguei depressa de mais, sem complicações e lembro-me de como foi há uma semana, quando tudo correu mal no simulador, quando larguei o cabo, cordão umbilical que me ligava ao mundo exterior e derivei para o limbo no que me pareceu uma eternidade atroz e mortifera.
O meu cérebro diz:
- Depressa...solta-te....sai...
Combato o pânico, sei que não é real, que tudo está pensado e ensaiado, continuo paralisado, a tentar ordenar todos os meus sentidos, combato a inércia regulando os componentes e assegurando-me de que não me perco neste mundo hostil e adverso.
Já os vejo, cinco vultos disformes, compassados e intermitentes que me confundem os sentidos...encaminham-se lentamente para mim fazendo-me um sinal sacerdotal para os seguir...
Não hesito, largo-me procurando refugio neste grupo de seres amorfos e descontextualizados .
Lentamente o medo começa-se a desvanecer , os ensinamentos resultam na perfeição, cada instrução correctamente interpretada, o voo razante ao solo, os exercícios de aprendizagem, a passagem pelas formações geológicas deste universo, a calma começa-me a atingir, contagiante e serena......consegui passar a primeira fase, a aterragem, sigo agora com os meus novos companheiros, sem desconfiança na certeza que me levam por bom caminho.
Sinto-me calmo para olhar em redor...o que me parecia árido e inabitável afinal resplandece de vida, entidades estranhas, gelatinosas, do cretácio observam-me com a calma natural de indígenas enquanto eu lhes peço o favor de por lá passar, fugazmente e sem danificar o seu delicado equilibrio.
Passaram 45 minutos, os sensores indicam para o retornou, o corpo começa-se a ressentir do frio, é tempo de ir, lentamente sem exceder a velocidade de aproximação, tenho lá fora á minha espera o calor do sol, o ar e a vida.

Baleeira, Cabo Espichel...o primeiro mergulho da minha vida.