Fui ver o James Bond, enquanto pagava o meu bilhete um senhor na casa dos 45 anitos vociferava para o empregado que me atendia chamando-lhe de tudo, desde a incompetente, a f da p..., por estar a demorar muito a efectuar o meu pagamento com o MB, o senhor tinha acabado de se por atrás de mim e aparentemente estava com medo de perder os primeiros 45 minutos de anúncios.
Achei que aquilo já estava a tomar uma dimensão surreal, virei-me e disse ao senhor que se estava com pressa tinha duas opções, A) tentava passar por cima de mim e esmurrava o funcionário ou B) esperava pela sua vez de forma tranquila enquanto eu pagava, pois aquela má educação não era consonante com a sua apresentação.
De repente comecei a ouvir uma musica de fundo, eu estava impecavelmente arranjado, de fato branco de corte italiano e o Aston Martin parado lá fora, ao meu lado uma elegante morena de vestido de noite e vermute com azeitona sussurrava-me ao ouvido, calma James, calma James...
Chateia-me que quem anda para ai a cantar aos quatro ventos que bom é a vitória do Senhor não fale também sobre a construção Europeia, sobre a necessidade urgente e nos últimos anos constatada de acelerar o processo comunitário de politicas comuns especialmente de defesa e política externa no seio da União gorda, abarrigada de Estados e que cada vez mais não serve para nada, o bicho comeu-se a si mesmo, está gordo imóvel e não consegue dar um passo sem realizar duas reuniões, três concelhos de ministros e outras tantas reuniões para pedir autorização ao outro pé para andar.
Sabem mesmo o que eu queria?
Que não estivéssemos a mandar bitáites sobre o Obama, que não estivéssemos a falar sobre as relações de amizade do Sarkozy e da Merkel, que não estivéssemos a mudar todos os quinze dias de Bruxelas para Estrasburgo mas sim que estivéssemos com forças de intervenções autónomas, não dependentes dos EUA no Congo a evitar mais um genocídio, que não tivéssemos 8 anos à espera de um senhor Presidente que no seu DIREITO e mandatado pelos seus cidadãos não quis interferir no Sudão, que não quis dar (e pagar) mais poderes á ONU para fiscalizar e punir as atrocidades que se fazem por ai, queria uma Europa forte, com uma politica de facto comum e interventiva, que não estivesse à espera do Senhor Salvador para resolver as Bósnias, os Kosovos e as Georgias, questões nossas vizinhas e onde nem aí podemos tocar.
Não, o que interessa é o que se passa no lado de lá, nós vamos continuar a engordar, a engordar de Estados, de normativas absurdas que em nada ajudam á construção europeia da união na diferença, não, vamos seguir o que se passa do lado de lá a babar, umas vezes de medo outras de esperança como agora mas vai ser só por mais oito anos, daqui por uma década voltamos a falar.
O Barack ganhou, ganhou também o mundo e sobretudo a América um novo vento, de mudança e de ruptura definitiva com o "Status Quo" de uma classe politica do preto ou do branco, Obama propõem apenas o cinzento, nada mais nada menos, "less is more".
A Europa, a velha Europa que ainda há quatro anos não compreendia os Americanos, que não percebia o que significava o "American Dream", que não percebia como um povo estúpido (pensavam e escreviam a maioria dos intelectuais) tinha eleito Bush em detrimento de um impoluto Nobel esquerdo-pacifico verdinho Gore agora se anima, apelidando o povo Americano de visionário ao eleger Obama esperando que ali do outro lado do Oceano venha a resolução de todos os nossos problemas.
Falavam os "opinion makers" Europeus, todos eles, num passado bem recente sobre a hegemonia do Império e da perversa aculturação mundial aos valores Americanos, falavam sobre a insolvência intelectual do povo Americano e agora é vê-los a pularem de contentes como se a América nos tivesse ouvido, a nós Europeus interesseiros e subservientes.
É esse o nosso único interesse comum, é que isto de andar a ter de tratar do mundo e dos seus problemas sem o chapéuzinho Americano custa, agora sim, já podemos descansar mais um pouco, qual exército Europeu qual quê, qual voz Externa Comum qual quê, está ai um tipo que até é de esquerda e é bem comportado, vamos mas é fazer tertulias para a Sobornne e beber uns cafézinhos em eternas externas reuniões lá para os lados de Bruxelas, agora sim,Tásse!
